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segunda-feira, 6 de maio de 2013

Momento do Letrando - Casa velha


Casa velha 

Para R.B.N.

       
... fica parado meu fio. Num levanta não. Passei um cafezim pra nóis. Tome todo viu... Carma meu fio, bebe divagá pra mode num caí no goto. Cê tá mió? Isso... Agora cê pode levantá, mas num meche muito a cabeça que é pra mode a tontisse num vortá. Pera aí, que vô buscá um negoço...

Eu não sabia onde estava, tão pouco quem era aquele homem que carregando o corpo envelhecido, não media esforços para lançar sobre mim gentilezas paternais. Não quis pensar muito, tudo era muito confuso ainda. Bebi o café que ele me deu. Tinha gosto de... Os olhos já não estavam tão neblinados como na hora que acordei. Pus reparo naquele lugar: o cômodo único era a casa; não havia outro móvel senão aquele no qual eu estive deitado por não sei quanto tempo e que deveria ser o leito no qual aquele senhor repousava seu cansaço e que humildemente deve ter me cedido, para que eu descansasse, do que mesmo? Dormi?

Não era noite, isso era claro. O telhado tapando o sol como uma peneira denunciava essa informação e iluminava todo o casebre revelando as paredes de adobo surradas pelo tempo e pela falta de recursos...

... oie, eu achei isso dijunto do'cê, achei que era seu e truxe tumbém...

Trouxe de onde? Onde ele me encontrou e como me encontrou? Pensei e não perguntei. Sim, isso é meu, disse enquanto abria a carteira para conferir.

... cê oia se num tá fartando nada, pode de ter caido pelo caminho...

Na hora que ele falou, caiu no chão batido um pequeno álbum, daqueles de foto três por quatro, peguei-o do chão e abri...

...esse aí da foto é ocê?

Sou eu sim, mas tá faltando a foto do meu avô que estava aqui, do lado da minha...

...é que eu ainda não tirei essa foto não. Mas, pra semana vô no Sisnando fotógrafo tirá umas foto pra documento. Pode deixá que eu num vô esquecê de dá uma pra sua mãe não. Um dia ela vai passar essa foto pra você e aí cê põe ela aí, do lado da sua... A "tontisse" voltou, saí voando pela porta daquela cada velha, caí num abismo e a queda me despertou. Abri os olhos, olhei em volta, vi que estava no meu quarto, tateei o criado-mudo, peguei a carteira... As duas fotos estavam lá, meio sujas de barro...

Texto enviado por Bárbara Maria Nunes Pereira, graduanda do curso de Letras Vernáculas.

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